Art 46. O sol queima de graça
Instagram Icon-facebook Youtube Economia e mercado por Jorge Krekeler No altiplano, ao norte da capital mexicana, há sol durante todo o dia por mais de
“Não é muita coisa” conta Alfredo Echeverría durante a reunião em sua casa na comunidade de San José Los Delgados, em El Salvador e acrescenta: “mas me sinto feliz do que estamos fazendo como REPASAIL”. A REPASAIL é uma rede de mulheres e homens promotores e ambientalistas que se dedicam à agricultura sustentável apoiados pela Cáritas San Vicente. A organização, embora sendo muito nova, já conta com pessoas delegadas de 16 povoados. A motivação para participar, segundo Roberto Rivera, atual presidente da organização: “Não se trata do que vão me dar, mas do que eu posso fazer”. Desde a auto poupança e o fitomelhoramento campesino participativo até aumentar a agrodiversidade”
O Começo
‘Parece que a produção de alimentos não é a prioridade no país’. Esta frase é escutada com muita frequência quando o diálogo aborda temáticas do agro no El Salvador, o menor país centro-americano, mas de alta densidade populacional. Nesse sentido, o governo salvadorenho tirou as taxas alfandegárias para as importações de alimentos dos países vizinhos, o que acaba dificultando ainda mais a situação para muitas famílias rurais. Diante desse panorama, quando a rede de promotores e ambientalistas por uma agricultura sustentável de Ilobasco nasce em 2019 prioriza contribuir com a segurança e soberania alimentaria por meio da agricultura sustentável e um foco agroecológico integral, para atingir uma harmonia da vida das pessoas com o planeta.
São pequenos grupos locais de mulheres e homens agricultores campesinos de diferentes localidades rurais do distrito de Ilobasco no município de Cabañas, quem, apoiados pela Cáritas se organizam em rede diante da necessidade de se articular para promover e coordenar voluntariamente ações ao redor da produção agroecológica, diversificação e defesa do meio ambiente. Cada grupo local envia pessoas como delegatárias que representam o grupo na rede. Assim conseguem coordenar e sicrinizar as ações. Atualmente a REPASAIL conta com 28 promotores, 13 deles mulheres e aglutinando grupos de 8 cantões do distrito de Ilobasco no departamento Cabañas. O objetivo da rede envolve a participação e intercâmbio de conhecimentos, práticas e sementes no território, incluindo assim diferentes grupos etários.
Da poupança ao Fitomelhoramento.
Em muitos dos povoadinhos surgiram grupos de poupança económica como resposta organizativa comunitária diante da falta de aceso ao crédito bancário. A captação de dinheiro pelo conceito de poupança, em geral de pessoas sócias do grupo – participam mais as mulheres do que os homens – poupam cada semana seus pequenos montantes. Esse capital serve para poder outorgar pequenos empréstimos para pessoas interessadas, na maioria gente dedicada a pequenos projetos produtivos. Existe bastante interesse das famílias rurais por trabalhar e participar de forma comunitária.
Com frequência no meio dos grupos se partilham e se trocam sementes nativas ou crioulas. A partir da rede é praticado o fitomelhoramento participativo camponês, um grupo de 10 pessoas, promotores, se dedicam a recuperar as sementes nativas. Assim, se conseguiu resgatar 10 variedades de milho e 20 de feijão. Essas variedades já foram massificadas por meio da troca de sementes; mesmo o Mons. José Elias Rauda Gutierrez, bispo diocesano participa no intercâmbio de sementes: “As plantas não são inimigas, mas nos fizeram a cabeça com que é preciso usar venenos para combater o que chamam ervas daninhas”. Parte do trabalho de fitomelhoramento é também a recuperação de formas adequadas de armazenar as sementes.
“Quando realizamos os primeiros cursos sobre agricultura sustentável, muitas pessoas ainda usavam agrotóxicos”, lembra Henry Rodriguez, coordenador da Pastoral Campesina e da Terra de Cáritas. Chama a atenção que para evitar usar plásticos e produzir lixo, as pessoas quando vêm aos cursos ou reuniões, trazem seu prato, copo e talheres; na maioria das vezes, as reuniões incluem a organização de um altar da abundância e da agrobiodiversidade. Cada um traz o que pode em sementes, frutas e plantas, alimentos processados artesanalmente, remédios biológicos para o controle de pragas. O altar obedece a múltiplos propósitos: compartilhando e agradecendo em comunidade, visualiza-se a abundância de forma emocional e motivacional e no fim cada um pode pegar alguma coisa do altar para levar.
O Gancho para a juventude
A rede identificou o risco de perder o pessoal mais jovem graças a frequente migração. Roberto Riveira e Carlos Avendaño comentam esse tema: “Os pais somos responsáveis dos jovens querendo ir embora; isso tem que mudar. As pessoas mais jovens, para além do trabalho na milpa[1] estão interessados no processamento de matéria prima, a apicultura, também as vendas em nível local”. Há famílias da REPSAIL que processam os frutos do sagu (espécie de palmeira) tirando seu amido p. ex. para fazer pão ou biscoitos. O inhame e o taro são outros produtos resgatados, cultivados como ingredientes ideais para as sopas.
Roberto, lembrando dos começos da rede e pensando no desafio de despertar interesse nos jovens para a vida no campo e uma agricultura amigável com a natureza e os seres vivos, comenta com um sorriso: “Para quem começa o processo parece uma tortura aprender, mas depois essa mesma pessoa percebe a recompensa. Temos que dividir isso com os jovens”.
Um Colar feito de desafios
A REPASAIL, até o momento é uma organização de fato, ou seja, ainda não se formalizou para ser pessoa jurídica, tem identificado os desafios como pérolas de um colar. Com o apoio da Cáritas e por meio de um projeto promovido por Misereor, com outros aliados como universidades, ONGs, etc., se o solo e a água permitem, trabalham, via sementes crioulas e bosque, com uma agricultura sustentável e agroecológica. No plano territorial e com o apoio firme da diocese e do clero, liderado pelo Padre René Valle, se consegue apoiar com a sensibilização de moradores e tomadores de decisão para solicitar à assembleia legislativa salvadorenha e o governo central, a lei de proibição da mineração metálica e, cientes das consequências nefastas da mineração no país vizinho, Honduras, não se permitiram atividades extrativas. A crise climática e as prolongadas secas são outra frente de trabalho da rede, introduzindo técnicas rústicas de regadio por gotejamento. A produção de adubos e pesticidas orgânicos vão de mão dada com a redução drástica do volume de resíduos sólidos.
O epicentro das atividades da rede e as famílias participantes está centralizado nas hortas orgânicas caseiras, usando esterco de galinha e microrganismos da montanha como adubo, manto de folhagem seca e a mineralização das plantas. E da horta para o processamento e preparo de comidas típicas para degustar em família e para vender. Essas delícias, como diria Alfredo Echeverria “não é lá grande coisa…”. A moral de tudo: secada pequena coisa tivesse tal alcance como o caminho trilhado pela REPSAIL, o mundo seria outro.
Mensagens para o Futuro.
1. Diz o ditado: Vale mais um ovo bem comido que mal vendido! Se dedicar à soberania alimentar e a uma agricultura amigável tanto para com a natureza como para com os seres vivos e uma venda de percurso curto permite uma dignidade rural e ao mesmo tempo à construção de um futuro desejado a partir do presente.
2. As trocas e visitas mútuas às iniciativas e empreendimentos familiares mantém a motivação em alta e fortalece o tecido organizativo com coesão social. Esta constelação junto com unas estratégias de convivência intergeracional já motivou a mais de uma pessoa jovem a considerar seu futuro no campo.
3. A articulação entre os grupos dos povoados permitiu ampliar o limiar socio-geográfico da gestão do conhecimento já que as pessoas promotoras e delegatárias replicam o que foi aprendido nos cursos nas suas localidades. Desse jeito se trabalham temas ambientais, políticas e de regeneração, defendendo o território e para alcançar uma maior resiliência.
[1] NdeT: tipo de plantio de milho, feijão e abóbora também conhecido como “três irmãs”
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O texto foi elaborado, com base nas conversas com homens e mulheres, integrantes da Rede de Promotores de Agricultura Sustentável e Ambientalistas de Ilobasco – Cabañas – REPASAIL nas comunidades de Los Delgados y Guadalupe, entre eles: Alfredo Echeverría, Micaela Abrego, Roberto Rivera, Consuelo Mercado, Silvia Paredes y Carlos Avendaño e pessoas da Cáritas da Diocese de San Vicente, entre elas Henry Rodríguez, Valentina López y Rubén Reyes. Além disso passou pelo grupo o Mons. José Elias Rauda, bispo de San Vicente. Durante a jornada também foi possível visitar hortas e chacras. As entrevistas no marco da visita em julho de 2014 foram realizadas por Jorge Krekeler (coordenador do Almanaque do Futuro – facilitador de Misereor a pedido de Agiamondo). Agradecidos às pessoas e famílias da REPASAIL e da Cáritas da diocese de San Vicente pelo seu tempo, interesse e confiança com o Almanaque do futuro. Um agradecimento especial para o Guillermo Navarro da Cáritas El Salvador pelo apoio e acompanhamento durante a estadia no país, gerando cumplicidade no tecer sinergias para construir o futuro a partir do presente.
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Autores:
Jorge Krekeler | [email protected]
Design:
Gabriela Avendaño
Fotografías:
Cáritas Diócesis de San Vicente – Jorge Krekeler
Dados de contato a respeito da experiência documentada:
Red de Promotores de Agricultura Sostenible y Ambientalistas de Ilobasco-Cabañas
REPASAIL
Facebook: Repasail Ilobasco
[email protected]
c/o Caritas Diócesis de San Vicente (Henry Rodríguez)
[email protected]
[email protected]
Edição: Novembro 2024
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