Art 49. Incidência a partir da chácara
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Duas pessoas, morando nos extremos da ilha Muisne, no Equador, têm muito em comum: são amigos de infância, logo na escola, cada um tentou a vida em diferentes lugares, e, recentemente, se juntaram de novo no seu lugar de origem para uma façanha nada pequena: tomas as rédeas de suas vidas, do seu tempo e de seus projetos de vida. Ambos decidiram viver em consonância com a natureza, com o mangue. O convite por parte de Yor Fletcher, mentor do projeto piloto para a Renda Básica, implementado pela rede de Guardiões de sementes, deu ao Gino e ao Fabio uma oportunidade de avançar mais rápido nas transições rumo a uma vida tranquila, baseada na regeneração do ecossistema e na soberania alimentar.
A propósito da Renda Básica Universal: a renda básica é uma quantia que é entregue de maneira periódica e sem condições à todas as pessoas residentes de uma comunidade para garantir sua subsistência económica. Ou seja, supõe-se que a RBU seja universal, individual e incondicional.
A Rede de Guardiões de Sementes (RGS) no Equador, aceitou o convite de Misereor, a agência alemã de cooperação pelo bem-estar e transição social, ecológica e econômica, para implementar um projeto piloto de renda básica no país. A RGS identificou 60 pessoas, que durante dois anos recebem uma renda mensal de 250 dólares, sem condicionamento sobre o uso desses recursos.
Uma particularidade do foco desse projeto é que têm sido as pessoas, guardiões de sementes, quem propôs colegas dos entornos locais, e quem tem demostrado interesse em avançar rumo a uma transição regenerativa, de sustentabilidade e do bem-comum.
A província verde
Esmeraldas, território costeiro do Equador, onde os bosques do Chocó se encontram com o oceano Pacífico, é lar de mangues, fundamentais para a biodiversidade marinha e terrestre. Porém uma série de desigualdades estruturais aprofundadas durante décadas, leva a que múltiplas formas de violência sejam vistas como parte do cotidiano. Manter processos coletivos é, portanto, um desafio, como nos contam Yor Fletcher y Cris Reyes, que chegaram a Caimito, localidade costeira esmeraldina, faz 21 anos e se dedicam a uma diversidade de projetos associativos e cooperativos para a produção de cacau agroecológico, turismo, entre outros. Uma das mudanças principais que o casal observa é que enquanto as horas do dia giram ao redor do celular, a cultura de “dar uma mão” ou de mutirão, vai se perdendo. O projeto de RB+, para o qual foi conformado um grupo local que vincula companheiros de Caimito e Muisne, busca recuperar a prática de se colaborar.
Rotas de vida
Gino Rojas e Fabio Estrada são amigos desde a escola. Ambos nasceram em Muisne, uma ilha na costa pacífica do Equador. Depois as trilhas das suas vidas se separaram. Gino dedicou-se a estudar e trabalhou em diferentes ofícios, também na administração pública. Fabio, buscando melhores condições, migrou, como tantos outros, para a capital Quito, para trabalhar como operário. Voltaram depois de muitos anos a seu povoado de nascimento, decepcionados da vida na cidade. Hoje ambos coincidem em que o desafio é tentar ser independentes. “Prefiro viver aqui”, diz Gino, “produzir comida e viver tranquilo ao em vez de trabalhar para outros e ter que comprar tudo”.
Ser, no lugar de querer ter
Gino vive numa casinha emprestada pelo seu vizinho enquanto constrói a sua na parte de trás de um terreno herdado de seu avô e que tem se fragmentado significativamente com o passo das gerações. Vender a terra no campo, na ruralidade, é um sacrifício comum para ir para a cidade. A superfície que Gino herdou são quatro hectares e meio. “Todos queremos ter sem sair da nossa zona de conforto” indica Gino e continua: “mas o salário que se ganha não permite chegar a nenhuma parte”. Em 2017 tomou a decisão de viver na fazenda, se dedicando à agricultura. “Inicialmente, minha ideia foi plantar palmeira de coco em monocultura. Já tinha plantado 200 palmeiras quando fui convidado para participar no Festival da Madre Semilla em Manabí, organizado pela Rede de Guardiões de Sementes. Os conhecimentos e impulsos que trouxe deste evento me fizeram mudar o foco e a partir de então optei por criar um bosque comestível”.
Muisne, que alguma vez fora ilha de bosques envolto em mangues, agora está rodeada pelos cultivos de camarão e monocultura de palmeira africana. Isto provocou a proliferação de pragas e o uso de agroquímicos para “curar as palmas”. O único que contradiz essa prática é o Gino, que planta uma grande variedade de árvores frutais e nutre o solo com a própria receita de adubo natural. Assim segurou a epidemia. “sempre houve faixas de coco” – observa Yor Fletcher no documental sobre Guardiões do Coco e do Mangue –“mas esteve acompanhado por um sistema biodiverso arás de tudo. Tinha um equilíbrio.”
O sonho do Gino é restaurar a soberania alimentar que caracterizava anteriormente o ecossistema local: “Estar embaixo das arvorezinhas, comendo as frutas de cada temporada”. Seu bosque comestível, habitado por uma diversidade de frutas tropicais, é reflexo dos intercâmbios com companheiros da Rede de Guardiões de Sementes da Clínica Ambiental, outro coletivo de permacultura da Amazônia do Equador. “já falta pouco para eu terminar a minha casa e assim ir morar na fazenda; já até identifiquei as árvores diante da minha casinha onde pendurar a rede”. Compartilha Gino. O sustento económico da fazenda, além da produção de alimentos, é a venda de óleo de coco, processado de forma artesanal e de cocadas, uma espécie de coco raspado, servido na concha do coco, o que gera valor agregado e evita plásticos – um manjar.
Antes tínhamos que sair atrás de trabalho
“Se não tivesse participado no projeto da renda básica, teria tido que ir atrás de trabalho remunerado para poder cumprir as minhas responsabilidades”. Gino tem uma filha que logo terminará o colégio, a quem envia dinheiro mensalmente. “Não poderia morar na fazenda e me dedicar ao que eu amo”. Comprou seu tempo e o investe como semente. “No início me desesperava, porque queria tudo logo, mas depois você aprende que tem um tempo pra tudo, e uma lua também.” As palmas de coco e algumas árvores do pomar começam a se carregar e vão garantir, cada vez mais, o sustento e a autonomia econômica do Gino.
Hago lo que me gusta
Cruzando la playa, de visita donde Fabio, nos cuenta un poco sobre su vida. Vivió casi diez años en Quito, donde sostuvo, junto a su familia un restaurante. Pero la vida en la ciudad no le gustaba, extrañaba la naturaleza: “porque tú puedes tener un trabajo estable, pero no la tranquilidad”. Con sus hijos Miguel y Daniel, ya adolescentes, regresó a su pueblo natal, Muisne. “Ahora hago lo que me gusta: vivir tranquilo, producir mi propia comida y decidir sobre mi tiempo, eso es bienestar”. La renta básica ha sido el último empujón que le faltaba a Fabio para regresar al manglar, la playa, las tortugas marinas. La sección local del Ministerio de Ambiente lo nombró voluntario, ya que sabe más de las tortugas marinas, de su anidación y del proceso de la eclosión que los mismos funcionarios.
Fabio ha invertido los recursos de la renta básica en la construcción de dos cabañas para el hospedaje y alimentación de turistas: su proyecto se llama Muisne Exótico. No le queda duda de que el turismo y la producción de alimentos le permitirá sostener una estabilidad económica. La madre de Fabio también volvió de Quito; Doña Francisca es una de las mejores conocedoras de la cocina local y, junto con Fabio reciben cada fin de semana comensales en la playa para atenderlxs con platos típicos esmeraldeños. Casi todo lo que se ofrece es producido en el lugar: el jugo es de frutas de la huerta, las conchas salen del manglar y el pescado lo pescan con frecuencia, Fabio y sus hijos, en el río que separa la isla del continente.
Ocupa teu tempo sem preocupações
“Quando você tem um projeto de vida claro, o apoio da renda básica ajuda um monte”, explica Fabio. Comprou ferramentas e reciclou boa parte da madeira das cabanas dos troncos grossos das árvores que o mar joga nas marés altas. Possui um talento de reconhecer potencialidades e dá um jeito de aproveitar. Na parte da fazenda que linda com o mangue construiu com pouco trabalho e intervenção de uma criação de camarões ecológica, uma piscina natural com um pequeno dique que permite que a maré salobre entre e saia.
Seus filhos, como adolescentes em quase todos os lugares, gostam de usar smartphones; mas ao mesmo tempo, vêm a convicção de seu pai e participam frequentemente. Um dos luxos que possibilitou o projeto é que Fabio tenha a disponibilidade de caminhar cada dia 4 km com eles à escola. Isto é excepcional em um contexto em que facções criminosas usam os menores de idade, fraturando o tecido social.
Um projeto ainda pendente para o Fabio e sua família é a compra de uma canoa um pouco maior para poder levar turistas de pesca pelos rios; e com a Dona Francisca querem oferecer também cursos culinários onde os visitantes podrão aprender como se preparam os quitutes da cozinha afroesmeraldenha.
O Fabio vai ao ponto: “Se Alimentar bem, se preocupar pouco e controlar y usar seu tempo sem depender de outros, isso é saúde. Para tudo isso precisamos de soberania alimentar.
Mensajes para o futuro
1. A renda básica é um catalizador enorme para adiantar projetos regenerativos de vida. Ao se tratar de projetos regenerativos impulsam também o bem-estar de suas famílias, comunidades, ecossistemas.
2. Ser dono do seu tempo, da sua dedicação é um privilégio que a renda básica, mesmo quando limitada na quantia e no tempo, pode facilitar para ser sustentado a longo prazo.
3. A renda básica promove processos grupais e dinamiza processos de capacitação de intercâmbio de experiencias e de apoios mútuos, baseados na reciprocidade.
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O texto foi elaborado com base na visita e conversas em Muisine e Caimito com Gino Rojas e Fabio Estrada George Fletcher e Cristina Reyes por Michelle Ruiz, coordenadora do projeto piloto RB+ da RGS e Jorge Krekeler, coordenador do Almanaque del Futuro (facilitador de Misereor a pedido de Agiamondo) em março de 2024. Muito obrigado à Gino, Fabio, Yoor e Cris pelo seu tempo, carinho e abertura diante de nossa visita. E obrigada também à Michelle por ter aceitado a coautoria e pela cumplicidade em capturar as trilhas da motivação.
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